quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Há açudes por aqui.

No Brasil, a árvore da imaginação nunca foi aparada no local onde o sol não se casou com a chuva. Lá os sapatos da racionalidade são substituídos pelas sandálias da criatividade e em um ato de gentileza à lingüística, sem qualquer conflito, cede espaço para emoção. O sofrimento transforma-se em cores, alegorias e música. Acho eu, que a escassez do líquido da vida, pode ser a causa dessas mutações do sentimento, pois não há sentido lógico um lugar com um passado, um presente e um particípio tão sofrido consiga se expressar de uma maneira tão bela e inteligente. Podemos ver isso desde as mãos gentis com que as portas dos prédios zona sul do Rio se abrem, até as mãos diplomáticas que assinam as decisões mais importantes do nosso país. As rachaduras no solo se contradizem com o azul das águas que banham seu litoral, tão próximo em distância, tão distante em sonhos. O sol que queima a pele e o preconceito dos turistas é o mesmo que castiga a couraça do boiadeiro no mato. Mas a poeira que levanta daquela terra, há meses sem água, hoje alcança todos os cantos do nosso país, e esse pó cria uma camada expessa de nacionalidade em nosso povo. A força com que é travada a luta diária, naquele lugar onde a saudade é parente de todos, reflete na força que multinacionais, com raízes de jacarandá, se fortalecem cada vez mais no cenário mundial. Os simples e ingênuos brinquedos de madeira, feitos pelas mãos barrentas das crianças, podem ser vistos da sua maneira mais autêntica na forma original em que teses nas universidades de todo o mundo são desenvolvidas. As noites estreladas, as casas com os tetos que mais parecem encostar-se ao céu e as cantigas de ninar dão-se mãos para morar juntas em  brochuras, simples ou rebuscadas, nas estantes de mansões e livrarias do sul e sudeste. A sanfona, nas casas de show do país, consegue falar a mesma voz que os sacerdotes suplicam em suas procissões e romarias. Assim, o saudosismo passa ser o revólver do inconsciente, onde sua munição passa a ser as formas com que se traduzem a saudade e a sede. Tudo isso para armar um exército forte onde não se poupam tiros, em uma batalha moral, uma batalha artística.

Guilherme Ginane, 24/09/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Gui estou ate assustada como vc esta escrevendo bem!Muito bonita sees empatou com Meier.
Parabens Gui,como disse vc se supera a cada dia.
Escreva um livro sei que sera muito bem escrito!
Ve é e sempre foi e sera o meu oregulho.
Que Deus te ilumine mais e mais te abençõado,pois vc é muito esforçado e corajoso,é o que posso te desejar.
Te amo muito,beijos,
Mary