quinta-feira, 16 de abril de 2009

Major.

O sol ia se pondo no horizonte de uma pequena rua, então surge um homem magro de estatura mediana, o nome é Gomes e ocupa o primeiro posto dos oficias superiores das Forças Armadas do Brasil, em menos letras, Major. Vizinho de poucas palavras e com cumprimentos sem som, é morador daquela rua a sete anos e casado a doze, com uma morena vistosa chamada Nadir. Sem filhos, o casal é menos admirado que as paredes que o cerca, agora não falo com imagens, a grandeza e a beleza da casa é o que mais chamam atenção dos vizinhos. A de ser justo se eu der agora os créditos de tamanha admiração: - A grandeza, atribuo a Gomes, pensamentos permanentes e sem desvios, levam a construções de cimento grandiosas. - A beleza, atribuo a Nadir, sua história conta os motivos desses créditos, então vamos comigo ao passado dela. Mineira de descendência árabe, vem de uma família muito pobre, tem pouquíssimas recordações dos pais, o superlativo representa a sua vontade de não querer visitar o pouco lhe que lhe resta da lembrança. Sua chegada, na ainda capital federal, foi aos sete anos de idade. Foi morar com um primo de seu pai e a esposa, no Centro da cidade. O tratamento recebido esquecia qualquer tipo de parentesco, um colchão e um quarto vazio foram as moedas de pagamento para um trabalho quase escravo. Aos quinze anos, em um domingo chuvoso que eu não recordo o ano, ela conhece o ainda soldado, Gomes. E partir de então as guaritas de sua vida seriam "protegidas" pelo exército. Amiga leitora, espero que entenda as aspas, amigo leitor caso não entenda, se encaixe na normalidade e coloque isso nos mistérios do mundo. Do passado voltemos ao presente e o presente é um fim de tarde. Nadir de cabelos mais arrumados que o normal, arruma a cozinha e vê Gomes entrar sem dar sequer um pio. Como de costume ele sobe e em poucos minutos começa o barulho da ducha.  Hoje Nadir compara os pingos de água aos de areia de uma ampulheta. Com estalar das chinelas na escada, o suor lhe veio as mãos e, sem se virar, ela disse:

- Gomes precisamos de uma conversa. 

- Fale logo, Nadir.

Como sempre ele imagina que ela lhe falaria coisas pequenas. Está enganado quem acha que a rotina vem com suas próprias passadas e a mineira de frente para a pia o surpreende com um pedido de divórcio. Com as sobrancelhas contraídas para demonstrar insatisfação, ele  a pede para repetir e ela, sem se virar, coloca sobre a pia de mármore as mesmas palavras de punhal. 

- O que aconteceu, meu amor? 

Com uma voz ainda doce porém alterada, ela lhe explicou que não mais poderia viver ao lado de uma pessoa a qual não mais compartilharia do amor.

- Eis ai uma traição, esbravejou o major que se retirou chorando. 

Passado alguns minutos Nadir apreensiva, fingia arrumar as malas já prontas. No segundo andar Gomes pensava como seria abandonar aquele posto, embaixo dos seus pés Nadir era um misto de alegria e tristeza. A tristeza é fácil de entender minha amiga, mas a alegria... sim alegria! Isso só se explica com mais palavras vindas do passado.

 

II - Foi em uma primavera

 

Diferente de água e óleo, o ofício e a vida tem uma harmonia quase eterna. Por isso, em casa, o major não se despia junto com a sua farda e assim, quando os soldados iam dormir, acendiam-se as luzes do quartel do casal. Isso acontecia desde o primeiro lar, o pequeno apartamento na Rua do Lavradio. Não gastarei tempo em escrever sobre esse período, pois a euforia dos primeiros anos servem como um anestésico, para qualquer dor, seja ela do corpo ou da mente, falo somente que os filhos já nesse tempo lhe foram negados, assunto pouco falado pelo casal, a vizinhança de lá falava que ele é que não possuía a fertilidade. 

Três anos antes do que ocorreu no capítulo anterior, volta a Quintino - bairro da rua que o sol se punha, um viúvo que pela fisionomia e atitudes, aparentava trinta e três anos, podem acreditar nessa idade inventada por mim, ao certo é isso que lhe cabe, porque se me mostras na aparência e atitudes a sua idade, por que eu vou procurar saber o que lhe vem escrito dentro de sua carteira velha? Chamava-se Mário e vinha de uma longa data em terras estrangeiras para descansar na rua vizinha a Nadir e Gomes, descansar pois trazia um título de viúvo e herdeiro de uma inglesa solitária que o tempo que gasto para descrevê-la não valeria o quanto ela fez por toda a vida. Moreno, cor de índio, encantava os homens pela gentileza dos gestos  e as mulheres pela agressividade do olhar, tão agressivo que explodiu o coração da esposa do Major. Desde então estilhaços de amor sobravam para quem a cercava. O sêmen substituiu o leite nunca derramado daqueles seios, noites escuras de sexo se repetiam fora do quartel General. Um, dois e no terceiro ano chego aonde quero e paro, e deixo vocês imaginar a nova Nadir.

 

Um comentário:

Mary disse...

Bonito Gui vc quanto sentimento envolvido,achei lindo Parabes,
Mary,
beijos