Com sapatos surrados, Ciro desce a ladeira esburacada para começar mais um dia de trabalho. Conhecidos de esquinas fazem questão de mostrar o zelo pelo cansaço da manhã. Os olhos inchados e os casacos acinzentados cruzam seu caminho abraçados com as buzinas e as motos. Sua rotina se faz um programa fúnebre. Antes de entrar na estação de trem, ele não se abala e cede aos velhos espíritos um olhar para o céu que parece estar a dois palmos de sua recente calvice. Momento de saudade e pequenas lágrimas a queimar no canto do olho. Momento interrompido pelo empurrão de uma multidão. A recordação do choro no primeiro dia de aula lhe vem voraz, assim como as mãos enrugadas e unhas amareladas que dividem com ele o corrimão. O primeiro dia de aula é logo substituído pela realidade do terceiro mês naquela nova e gigantesca cidade. Ou será o seu primeiro ano? Ele não sabe, para Ciro os dias perderam a matemática.
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