Nas últimas semanas, de tanto ver notícias sobre a precoce morte de Amy Winehouse e de muito escutar o belíssimo novo álbum do Chico, chego à conclusão que todos nós, sem exceção, saboreamos, aos vinte e sete anos, um pouco do sabor amargo da morte.
Na letra de um blues chamado "Essa pequena", Chico diz:
Na letra de um blues chamado "Essa pequena", Chico diz:
Feito avarento, conto os meus minutos
Cada segundo que se esvai
Cuidando dela,
Cuidando dela,
que anda noutro mundo
Ela que esbanja suas horas ao vento, ai
Ele descreve as diferenças da convivência entre uma pessoa de trinta e uma de sessenta. A morte que me refiro é essa, gradativa, lenta como os passos de um velho a admirar jovens correndo, caindo e levantando em um parque ensolarado. Acredito que alguns enxergarão na minha conclusão um pessimismo em relação à vida. Logo lembro das dores e sensações das primeiras paixões e me convenço mais e mais que a morte está a acontecer sim, queiram ou não aceita-las.
Aos vinte sete anos essa reflexão aparece. A diferença entre o minuto que passa a durar mais e os dias que duram menos fica nítido nesta fase. Claro que a idade a que me refiro não é de forma literal, é um símbolo de um sentimento que pode acontecer aos vinte e dois ou aos trinta e cinco, e quem sabe aos cinqüenta, se seu passado não vier lhe cobrar e seu futuro puder esperar. As minhas lembranças continuam a distancia da eternidade dos meus dezoito anos também. Me recordo das sensações físicas, as diferenças dos sabores, as distancias e o frio que aumentaram junto com o peso das sacolas de supermercado. As realizações que passaram a demorar quase uma eternidade, se comparadas a uma época em que, num só dia, duas delas aconteciam inesperadamente.
Os de vinte sete anos que se foram, simplesmente não agüentariam conviver pacificamente com isso. Começaram a sentir o que estava a acontecer e se entregaram. Certamente não eram felizes depois que descobriram que o instante morreria dando lugar ao tempo.
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