domingo, 26 de agosto de 2012

Texto sobre a exposição "O fim da metade é o começo do meio"







Na exposição O fim da metade é o começo do meio  Paulo Pasta constrói uma acústica que blinda os ruídos da discussão contemporânea. Na sua caminhada como a de um artista “fonâmbulo”, como ele mesmo já intitulou uma série de trabalhos, Pasta se assemelha a Jacobina, o personagem Machadiano do conto “O Espelho”. Transita do olhar que tem para dentro de si, em busca de algo que o faça pertencer ao mundo, para um outro olhar, que parece enxergar na história uma eterna gratidão de sua própria existência. Nas telas uma construção justa, conquistada de forma árdua, como ele mesmo diz “que busca o presente através das lembranças”, sem privilégios e facilidades a nada do que lhe é dado. Em tempo presente os desencontros do passado e futuro. Como Paulo Naves descreve em uma critica anterior ao trabalho do artista, vendo suas telas, "provisoriamente temos tempo". Nos mais recentes, expostos na parte superior da galeria, Pasta usa dois blocos centrais nas telas que se encontram em paredes paralelas, a ampulheta parece que novamente é virada, eu como observador, volto novamente à superfície para, depois, emergir lentamente nos grandes retângulos que rompem uma estrutura que já parecia solidificada, o tempo é esgarçado, e mais um embate é resolvido nele, e depois em mim. As listras laterais, com pinceladas aparentes, dão a certeza de uma incerteza vivenciada. As sutis diferenças tonais parecem conquistar os espaços e mais uma vez conquistar o tempo. Ronaldo Brito diz sobre uma outra exposição do artista "As cores vão sendo feitas e eleitas segundo uma duradoura afinidade imaginária, uma espécie de secreta hermenêutica subjetiva, mas devem enfrentar o teste real: funcionam ou fracassam nesta ou naquela eventual conjetura". O ar toma as cores pra si e na tela elas adormecem como espíritos desencarnados. Apesar de elas, as cores, não serem tudo que resume a pintura do Paulo, foi a partir delas que mais vi sentido em uma frase de Cézanne – "Se o pintor quer exprimir o mundo, é preciso que a composição das cores traga em si este todo indivisível". Mas o valor que têm as formas tão reais do pintor são ressaltadas em um texto seu no novo livro A Educação pela Pintura onde ele fala que “Quanto mais elementos tenho para pintar, mais vejo possibilidades para o meu trabalho. Isso contradiz um pouco que a maioria dos observadores aponta como sendo a primeira coisa a notar em minha pintura: a cor. Na verdade, penso que foi devido a essa expansão das formas que a cor ganhou maior amplitude e força”. E essa expansão não só dá amplitude a cor como também a seu desejo de situar-se em mundo novo, dá-lhe um caminho único aos paradoxos filosóficos e sociais que vivemos, onde talvez o passado não assumiria um papel tão malígno. Paulo Pasta parece encontrar um meio apolítico ideal para essa reflexão.

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