Aeroporto de Congonhas, uma hora da tarde de um sábado de carnaval. No mesmo tempo que autofalantes chamam insistentemente por um vôo para Brasília, uma mulher gorda e com a pele bem morena, caminha até sentar lentamente a minha frente. Com calma ela observa tudo ao seu redor, de um lado um branquelo que dorme sobre uma mochila, do outro um homem careca e de terno que ri descompassadamente a frente da tela do seu laptop. Já sentada e acomodada os grandes cílios emolduram o vai e vem das aeronaves. Os sapatos surrados contrastam com o cabelo cor de fogo muito bem cuidado. No momento que ela vai retirar alguma coisa da bolsa, um grupo de velhas gaúchas se aproximam, todas com sotaques bem carregados. Dentre elas uma se destaca pelo volume e o tom estridente de sua voz. Os olhos arregalados é a caracteristica em comum de todas elas. Quando todas estão instaladas uma delas começa a falar sobre o acidente que ali havia acontecido a um ano atrás, mas antes de entrar nos detalhes mórbidos da velhice, a voz estridente, como um machado afiado, corta o assunto com outro comentário, trazendo a luz a visão de um coroa bonitão e solitário que passava próximo a nós. O medo se tornou esperança e desejo. Claramente aquela voz era a estrela brilhante naquela constelação quase apagada. Nesse tempo meu olhar se perdeu da mulher a minha frente, mas quando lembrei meus olhos correram a percebe-la, e foi nesse instante que eu vi o crachá de uma cia aérea que ela carregara no peito, vi também que na bolsa menor que ela pegava na hora da chegada das velhas gaúchas, existia um esmalte cintilante. E agora das unhas ela faz o seu conforto, é como o artista com pequenas telas na ponta dos dedos. A voz e as piadas da gaúcha, que a essa altura já incomodavam as pessoas que estavam perto de nós, pareciam não existir para mulata vaidosa. Depois das unhas, ele revê os lábios, prenchidos detalhandamente com um batom cor de laranja. Um avião se aproxima e o reflexo do sol reluz na sua carenagem limpíssima. O meu vôo para Rio de Janeiro é anúnciado e parece ser o mesmo delas, tanto das velhas quanto da gorducha a minha frente. Então começa novamente a troca dos atos pelo medo, o esmalte é guardado, a voz rouca se cala e as palavras terminam.
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