sexta-feira, 9 de março de 2012

Tarde de domingo

Deitado numa tarde calorenta de domingo inalei, como um faz um enfermo mascarado, o forte cheiro da responsabilidade excessiva que misturava perfume e suor. Os olhos fechavam no rítmo das cortinas de renda que se mexiam com a leve brisa trazida pelo alto coqueiro que de pé se avistava da janela. O som da tv que transmitia um jogo de futebol do campeonato paulista fazia o papel inverso, abria meus olhos a cada lance que o narrador via perigo. Uma voz aspera que surgia de dentro do travesseiro transitava entre o leve sono e a realidade de uma maneira fulgaz. Minhas pernas de menino suavam. Virei para o lado oposto da cama para fugir do calor, meu braço direito foi descansar em um peito cabeludo. Ali, quando acordado, eu brincava com meus pequeninos cavalos de plástico. Nele eu imaginava o cenário perfeito de uma grande batalha. O barulho do coração servia para dar a veracidade do pulsar da terra. Os cavalinhos que foram parar no meu sonho se tornaram gigantes e o plástico mordido nas pontas deu lugar a músculos viris. Eu, de farda, liderava uma legião de soldados feridos quando um hálito forte me fez abrir os olhos, e a barba feita no dia anterior me arranhou o rosto com um beijo carinhoso.

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